Somente na semana passada, a Equipe de Resgate do Projeto Manatí atendeu a dois encalhes de botos-cinza ocorridos em praias do litoral leste do Ceará. Um dos animais era um filhote que foi encontrado vivo na Praia do Diogo, no município de Beberibe. Os moradores da comunidade entraram imediatamente em contato com a equipe quando encontraram o animal. Foram repassadas instruções de primeiros socorros, porém o filhote resistiu apenas por poucos minutos. A carcaça foi recuperada e levada para o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos da AQUASIS para a investigação da causa da morte. O animal apresentava um sério comprometimento em diversos órgãos e veio à óbito por insuficiência respiratória, condição secundária a inanição e alterações cerebrais e gastrointestinais de origem ainda desconhecida. Amostras dos órgãos foram coletadas para análises patológicas e microbiológicas para auxílio no diagnóstico final.
Um segundo encalhe de boto-cinza foi registrado dois dias depois na Praia de Canoa Quebrada, Aracati. Colaboradores do Projeto Manatí encontraram o animal já morto e entraram em contato para que a equipe resgatasse a carcaça. O boto estava mutilado, sem a cabeça e todas as nadadeiras, cortadas com faca. Segundo informações levantadas no local, o animal encalhou inteiro. No exame da carcaça foi constatado que se tratava de uma fêmea grávida, no período final da gestação. Devido a depredação da carcaça e ao início de decomposição, não foi possível observar marcas de rede de pesca na pele. Como a fêmea encontrava-se em bom estado nutricional e estava com o estômago repleto de peixes, supõe-se que tenha morrido por uma causa aguda, possivelmente capturada acidentalmente em rede.
Registros de encalhes de botos-cinza tem sido cada vez mais comuns nas praias do Ceará, principalmente no litoral leste. Somente nos seis primeiros meses de 2011, 34 animais dessa espécie já foram resgatados. A maioria é de animais mortos, cuja captura acidental em rede de pesca é a principal responsável por essa alta mortalidade. Apenas o filhote citado acima foi encontrado vivo, porém dificilmente sobreviveria, tendo em vista a gravidade das lesões diagnosticadas. No entanto, é importante destacar o papel dos colaboradores no resgate de animais vivos, essencial para assegurar o bem-estar e a sobrevivência desses indivíduos até a chegada da equipe de resgate No caso de animais mortos, além da problemática das capturas acidentais, ainda tem se observado frequentemente o uso de carne, gordura e dentes, seja para consumo, confecção de iscas ou para elaboração de artesanatos. No caso mencionado anteriormente, as partes do corpo do animal foram retiradas provavelmente para serem comercializadas. O molestamento de cetáceos e uso dos produtos oriundos desses animais é proibido por lei, sendo necessário investigar a autoria do crime.
O Projeto Mamatí é executado pela Aquasis e SESC Ceará e conta com o patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental. Além disso, tem apoio do Centro Mamiferos Aquáticos (CMA/ICMBio) e Projeto Cetáceos da Costa Branca/UERN.
Texto: Vitor Luz, Médico Veterinário
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