Fontinho, recém-nascido e recém trazido para reabilitação na Aquasis após ser resgatado na Praia das Fontes. |
O processo de reabilitação de um filhote de peixe-boi marinho leva anos. Anos de trabalho, de esforços, de recursos, de pesquisas, de estudos, de vontade e carinho. Profissionais dedicam a vida a salvar uma vida e, comprometidos com a espécie, se esforçam para devolvê-la renovada ao seu ambiente natural. Uma vida vale milhões. No caso da população brasileira de peixes-bois marinhos, essa é uma máxima literal. Com um número de difícil estimativa, opiniões otimistas apontam para uma população de cerca de quinhtentos indivíduos no país inteiro.
Então, um só é bastante.
Nada traz mais felicidade e orgulho para qualquer equipe envolvida no trabalho de conservação dessa espécie do que devolver com vida à natureza um animal que por pouco encontraria a morte e por pouco pode encontrar a extinção do país. Traz tanta ou mais felicidade e orgulho ver esses animais voltando com vida ao mar do que resgatá-los quase mortos em terra. A sensação de dever cumprido é indescritível.
E olha que resgatá-los é muito, mas muito, gratificante. Faz muita gente abrir mão de família, dinheiro, sucesso, férias e feriados, tranquilidade e conforto para estar sempre pronto para ajudar.
Hoje, descobrimos que, de maneira proporcional, nada traz mais tristeza do que ver essa mesma vida se perder depois de tanta luta e sorte. Especialmente quando a causa da morte é a mesma que a trouxe encalhada até nós: o puro egoísmo humano, uma das características únicas da nossa espécie.
Descobrimos isso com a morte do Fontinho, resgatado ainda filhote na Praia das Fontes e tratado pela Aquasis, enviado para reabilitação no Centro Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio). Fontinho tinha seis anos de idade e foi acompanhado por profissionais desde o dia de seu resgate até a sua nova vida livre na natureza. Fontinho poderia ter vivido por décadas. Poderia ter procriado. Poderia ter cumprido a sua parte na sobrevivência de sua espécie. Mas agora seis anos de esforços pelo bem do animal e da própria existência destes foram por água abaixo. A pequena população de peixes-bois foi reduzida em um.
E um realmente é bastante.
Não conseguimos imaginar o motivo que levaria alguém a alvejar um animal inofensivo dentro de uma área protegida. Matar um animal pelo simples ato cruel de matar já é um absurdo, mas queremos acreditar que, se essa pessoa soubesse o quanto esse animal representava, da importância e do esforço para salvar a sua espécie, ela teria pensado uma segunda vez.
A desinformação destruiu, como é desesperadoramente comum, mais um trabalho bonito e árduo que visava apenas o bem da sociedade e da natureza.
Esperamos que o Fontinho esteja descansando em paz. E vamos continuar trabalhando mais e mais para compensar cada falta cometida pela nossa espécie.
A equipe da Aquasis
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