sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Descanse em paz, Fontinho

Fontinho, recém-nascido e recém trazido para reabilitação na Aquasis após ser resgatado na Praia das Fontes. 

O processo de reabilitação de um filhote de peixe-boi marinho leva anos. Anos de trabalho, de esforços, de recursos, de pesquisas, de estudos, de vontade e carinho. Profissionais dedicam a vida a salvar uma vida e, comprometidos com a espécie, se esforçam para devolvê-la renovada ao seu ambiente natural. Uma vida vale milhões. No caso da população brasileira de peixes-bois marinhos, essa é uma máxima literal. Com um número de difícil estimativa, opiniões otimistas apontam para uma população de cerca de quinhtentos indivíduos no país inteiro. 

Então, um só é bastante.

Nada traz mais felicidade e orgulho para qualquer equipe envolvida no trabalho de conservação dessa espécie do que devolver com vida à natureza um animal que por pouco encontraria a morte e por pouco pode encontrar a extinção do país. Traz tanta ou mais felicidade e orgulho ver esses animais voltando com vida ao mar do que resgatá-los quase mortos em terra. A sensação de dever cumprido é indescritível.  

E olha que resgatá-los é muito, mas muito, gratificante. Faz muita gente abrir mão de família, dinheiro, sucesso, férias e feriados, tranquilidade e conforto para estar sempre pronto para ajudar.

Hoje, descobrimos que, de maneira proporcional, nada traz mais tristeza do que ver essa mesma vida se perder depois de tanta luta e sorte. Especialmente quando a causa da morte é a mesma que a trouxe encalhada até nós: o puro egoísmo humano, uma das características únicas da nossa espécie.

Descobrimos isso com a morte do Fontinho, resgatado ainda filhote na Praia das Fontes e tratado pela Aquasis, enviado para reabilitação no Centro Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio). Fontinho tinha seis anos de idade e foi acompanhado por profissionais desde o dia de seu resgate até a sua nova vida livre na natureza. Fontinho poderia ter vivido por décadas. Poderia ter procriado. Poderia ter cumprido a sua parte na sobrevivência de sua espécie. Mas agora seis anos de esforços pelo bem do animal e da própria existência destes foram por água abaixo. A pequena população de peixes-bois foi reduzida em um. 

E um realmente é bastante.

Não conseguimos imaginar o motivo que levaria alguém a alvejar um animal inofensivo dentro de uma área protegida. Matar um animal pelo simples ato cruel de matar já é um absurdo, mas queremos acreditar que, se essa pessoa soubesse o quanto esse animal representava, da importância e do esforço para salvar a sua espécie, ela teria pensado uma segunda vez. 

A desinformação destruiu, como é desesperadoramente comum, mais um trabalho bonito e árduo que visava apenas o bem da sociedade e da natureza. 

Esperamos que o Fontinho esteja descansando em paz. E vamos continuar trabalhando mais e mais para compensar cada falta cometida pela nossa espécie. 







A equipe da Aquasis




quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Projeto Manatí resgata dois filhotes vivos de peixe-boi em Pontal do Maceió

Os dois foram encontrados encalhados no mesmo local em Pontal do Maceió, na cidade de Fortim



Ontem o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos recebeu uma ligação no início da manhã relatando dois encalhes de peixes-bois adultos na praia de Pontal do Maceió, no município de Fortim. A nossa equipe de resgate se deslocou o mais rápido possível até o local e encontrou, para a surpresa dos membros, dois filhotes recém nascidos vivos, próximos um ao outro.


Romário, membro da equipe, transportando um dos animais
Os pequenos foram imediatamente levados para o Centro de Reabilitação da Aquasis. Normalmente, procura-se a mãe do filhote encalhado para tentar a devolução segura para a natureza, mas, devido à idade e ao estado bastante debilitado dos animais, às fortes correntes do local e ao fato de terem sido encontrados dois filhotes, a equipe optou por resgatá-los. A busca pela mãe está sendo realizada pelos parceiros da Aquasis do projeto Cetáceos da Costa Branca, executado pela UERN (os mesmos que encontraram a Alva!).
Agora os filhotes estão juntos habitando um dos nossos tanques e sendo examinados pela nossa equipe veterinária. Por enquanto, os dois ainda estão assustados com a sua nova situação mas apresentam quadro de saúde estável. Estamos aguardando os resultados dos exames para saber um pouco mais sobre sua condição e para confirmar se os dois são, de fato, irmãos gêmeos.


Os dois se mantendo firmes e unidos no seu tanque do Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos

Parabéns para a equipe de resgate do Projeto Manatí, que foram os heróis do dia, à Petrobras e ao Sesc que ajudam o nosso projeto mantendo-o sempre preparado e bem equipado, e parabéns aos pequenos filhotes de peixe-boi marinho, que resistiram bravamente a horas e horas de desidratação e exposição ao sol.

Agora, no final do expediente, o trabalho da equipe é decidir como batizar os dois prováveis irmãos. Tico e Teco? Leando e Leonardo? B1 e B2? Se você tem uma sugestão, ela é bem vinda.