No dia 25 de março de 2012, a equipe do Projeto Manatí registrou o encalhe de um golfinho-climene (Stenella clymene) na Praia de Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara. Quinze dias antes, outro golfinho da mesma espécie havia encalhado na Praia de Parajuru, município de Beberibe. Ambos os animais eram machos adultos e encalharam vivos, porém resistiram por pouco tempo sob os cuidados dos colaboradores locais do projeto. As carcaças foram transportadas para a Aquasis para a realização da necropsia e investigação da causa mortis.
O primeiro animal estava em estado nutricional bom, porém foram observadas diversas lesões na necropsia, algumas de caráter crônico. O óbito ocorreu por choque por estresse, mas o animal também tinha gastrenterite severa e pneumonia. O segundo animal estava em situação pior. Havia uma grande perda de peso e o quadro de saúde era mais grave. Também foi identificada uma gastroenterite severa, além de infecção urinária, vários cistos nos pâncreas e hemorragias nas bulas timpânicas. Os dois golfinhos apresentavam infecções variando de moderada a grave por parasitos gástricos e pulmonares.
É possível afirmar que os dois golfinhos estavam infectados por bactérias e/ou vírus ainda não identificados, o que pode tê-los incapacitado de acompanhar o grupo. Além disso, existe a possibilidade de que os impactos sonoros de prospecções sísmicas, que estavam sendo realizadas na região dias antes do primeiro encalhe, possam ter colaborado para uma maior debilidade. A origem das diversas lesões está sendo investigada, porém exames complementares são necessários para estabelecimento do quadro final.
Alguns achados comuns aos dois casos levaram a equipe a crer na possibilidade de serem animais pertencentes ao mesmo grupo. O padrão de coloração, com pintas escuras na região ventral, era similar e nunca havia sido observado em outros indivíduos da mesma espécie já resgatados pela Aquasis. Além disso, os dois animais compartilhavam parasitos e lesões similares, o que reforça essa hipótese. A grande distância entre os dois locais de encalhe, de aproximadamente 370km, e o intervalo de 15 dias entre os eventos, pode indicar que o segundo golfinho resistiu por mais tempo, porém ficou mais debilitado e sob a ação das fortes correntes marinhas.
O encalhe de golfinhos-climene não é incomum no litoral do Ceará, sendo esta a quinta espécie de cetáceo mais registrada, com 12 indivíduos no total desde 1992. A região nordeste concentra o maior número de encalhes do Brasil. O golfinho-climene é encontrado em aguas tropicais e subtropicais do Oceano Atlântico. Tem preferência por águas quentes, porém ainda sabe-se pouco sobre sua biologia e história natural. O Projeto Manatí, patrocinado pelo Programa Petrobras Ambiental, executa resgates de mamíferos marinhos no estado do Ceará, e é o nó da Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Brasil no estado.